Definir o preço de venda, tanto de produtos quanto de serviços, é uma etapa fundamental para qualquer negócio e, muitas vezes, essa decisão carrega um peso estratégico determinante para o sucesso ou fracasso comercial. Para as áreas de marketing e vendas, essa tarefa se revela especialmente delicada, pois o preço de um produto ou serviço não apenas influencia diretamente a percepção de valor pelo cliente, mas também impacta na competitividade e na sustentabilidade financeira da empresa.
Quando se trata de precificação de serviços, o desafio se intensifica devido à sua natureza intangível. A comparação de preços nesse contexto exige do gestor não apenas experiência, mas também uma visão atenta, já que pequenos detalhes podem resultar em grandes variações no valor final.
Na verdade, o preço deve ser estabelecido de forma criteriosa, levando em consideração tanto as nuances do mercado em que a empresa está inserida quanto a complexidade do próprio serviço. Assim, definir o preço de serviços deve ser um processo minucioso, onde é importante observar:
- A complexidade da precificação: Determinar o preço de venda de um serviço não é simples.
- Mais que um cálculo: Precificação vai além de fórmulas matemáticas; é uma decisão estratégica.
- Condições de mercado: O preço deve ser definido com base nas condições do mercado e nas características específicas do serviço.
- Complexidade do serviço: Serviços mais simples podem ser precificados de forma objetiva; já os mais complexos, com maior carga intelectual ou tecnológica, exigem uma abordagem orientada pela oferta de valor.
- Metodologia própria: Cada empresa deve desenvolver sua metodologia de precificação, considerando suas particularidades.
- Custo e planilhas detalhadas: Quanto mais sofisticado o serviço, mais detalhada deve ser a análise de custos.
- Aspecto estratégico: Serviços novos, altamente personalizados ou que envolvem ações de reposicionamento de marca devem ser precificados estrategicamente, levando em conta a inovação, a personalização e a percepção de valor que eles oferecem ao mercado.
Desmistificando o Processo de Precificação
Uma das primeiras percepções que devem ser desconstruídas ao tratar da precificação de serviços é a ideia de que os preços são calculados de maneira puramente matemática. Muitos empresários cometem o erro de acreditar que o preço de venda pode ser obtido simplesmente aplicando uma fórmula.
Esse equívoco, em grande parte, deriva da maneira como muitas empresas estruturam suas regras de cálculo de referência de preço. Embora o uso de uma fórmula seja parte do processo, o preço final é uma decisão que envolve análise estratégica.
A fórmula mais comum utilizada para gerar uma referência de preço é a seguinte:
PV = CS + CT + LB
Onde:
- PV: Preço de venda
- CS: Custo dos serviços
- CT: Custo tributário
- LB: Lucro bruto
Além disso, o custo dos serviços (CS) pode ser subdividido em:
- RU: Recursos utilizados
- CF: Custo financeiro
- KH: Conhecimento (know-how)
Embora essa fórmula ajude a ter uma ideia inicial de preço, ela não reflete o cenário completo. Entender a natureza dos custos envolvidos no serviço é crucial para adotar uma metodologia eficaz de precificação. Vamos a alguns exemplos práticos:
- Lavanderias: Aqui, o preço de venda é determinado pelo volume de quilos de roupas lavadas, considerando que os principais custos — equipamentos e consumíveis — são quase todos fixos.
- Construção: Em obras de construção civil, há um uso intensivo de equipamentos e materiais, mas também é necessário considerar os custos variáveis, como mão de obra e capital. Cada projeto tem um preço único, ajustado conforme os recursos empregados e o tempo de execução.
- Tecnologia da Informação: No setor de TI, há recursos variáveis semelhantes aos da construção, mas o conhecimento aplicado no projeto é um insumo crítico e difícil de calcular, o que torna a precificação mais complexa.
- Entretenimento: No setor de entretenimento, como em shows ou eventos, os custos variáveis incluem cachets dos artistas, locação de espaços e equipamentos de som e luz. A precificação envolve não só esses custos, mas também a demanda do público e a percepção de valor do evento, que pode variar conforme a relevância dos artistas ou do conteúdo oferecido.
- Hospitalidade: Em hotéis, a precificação dos quartos varia conforme a época do ano, taxa de ocupação e localização. A manutenção das instalações, mão de obra, e serviços complementares, como restaurante ou spa, também entram na fórmula. Setores como o de hospitalidade utilizam amplamente a precificação dinâmica, ajustando os valores de acordo com a demanda e eventos na região.
- Gastronomia: Restaurantes, por exemplo, calculam o preço dos pratos a partir dos custos dos ingredientes, energia, mão de obra e outros insumos variáveis. A precificação também leva em conta o posicionamento do restaurante no mercado, a experiência gastronômica oferecida e o valor percebido pelos clientes, o que pode justificar preços mais elevados em estabelecimentos de alta gastronomia
Esses exemplos mostram como a precificação de serviços varia conforme os custos e o valor percebido em cada setor, exigindo uma análise detalhada para alcançar preços competitivos e sustentáveis.
Um sistema de controle orçamentário é indispensável, pois permite o monitoramento contínuo dos gastos durante a execução dos serviços. Isso possibilita a avaliação precisa da influência dos custos nos preços dos serviços, permitindo ajustes estratégicos que garantam a competitividade e a rentabilidade do negócio.
Estratégia na Precificação: Muito Além do Cálculo
Apesar do uso de fórmulas ajudar na criação de uma base de preços, a decisão final sobre o preço deve considerar aspectos estratégicos que transcendem a aritmética e que são essenciais para garantir a competitividade da empresa no mercado. Quatro componentes estratégicos da fórmula devem ser avaliados cuidadosamente:
1. Resultado financeiro e econômico: O conceito de resultado vai além da simples obtenção de lucro, abrangendo tanto o aspecto financeiro quanto o econômico. Dependendo da estratégia adotada para o serviço, pode ser aceitável, e até estratégico, não obter lucro ou até mesmo aceitar um resultado financeiro negativo em determinadas circunstâncias, com o objetivo de impulsionar outras fontes de receita que são influenciadas pelo serviço prestado.
- Exemplo no setor de tecnologia: Plataformas de streaming, como Netflix e Spotify, muitas vezes operam com resultados financeiros negativos ou margens de lucro extremamente apertadas em suas operações principais. Isso ocorre porque elas investem pesadamente em produção de conteúdo e expansão de mercado para aumentar sua base de assinantes. O foco está em conquistar e reter clientes, visando ganhos futuros em escala, em vez de um lucro imediato. Esse modelo permite que, em um futuro próximo, essas empresas explorem fontes adicionais de receita, como parcerias, publicidade ou novos serviços.
- Exemplo no varejo: Empresas como Amazon e Mercado Livre, durante anos, aceitaram operar com lucros reduzidos ou prejuízos em determinados segmentos, como no frete grátis ou promoções agressivas, para ganhar participação de mercado. Essa estratégia permitiu que elas ampliassem sua base de clientes e fidelidade, o que, por sua vez, gerou crescimento em outras áreas de receita, como serviços de assinatura, marketplace e infraestrutura de tecnologia (Amazon Web Services).
- Exemplo no setor de hospitalidade: Hotéis de grandes redes, como Marriott ou Hilton, podem reduzir temporariamente suas margens de lucro ou até operar com prejuízo durante eventos especiais ou em períodos de baixa demanda. Ao fazer isso, atraem mais hóspedes e promovem sua marca, o que impacta positivamente outros serviços, como restaurantes, eventos corporativos e pacotes turísticos, aumentando o valor geral do cliente ao longo do tempo.
2. Custo financeiro: Replicar o custo financeiro no preço final pode aumentar as margens de lucro, pois o cliente cobrirá o financiamento necessário para a execução do serviço.
3. Conhecimento aplicado (know-how): Talvez o componente mais difícil de mensurar, o conhecimento envolvido no desenvolvimento do serviço pode ser diluído em pequenas parcelas de recuperação ou precificado de forma integral, dependendo da estratégia da empresa. Além disso, o nível de complexidade do serviço desempenha um papel importante nesse contexto. Quanto mais complexo for o serviço, maior será a exigência de conhecimento especializado, o que impacta diretamente a quantidade e qualidade dos recursos empregados, especialmente humanos. Isso resulta em um aumento proporcional no preço, refletindo a necessidade de profissionais mais qualificados e tecnologias avançadas para a execução adequada do projeto.
4. Posicionamento estratégico: O posicionamento estratégico, tanto da organização quanto do próprio serviço, é crucial para determinar a percepção de valor que se deseja propor ao mercado, em alinhamento com os objetivos estratégicos de longo prazo. Nesse sentido, dois fatores devem ser considerados:
- Interesse estratégico pelo cliente: Avaliar o quanto um cliente é importante para refletir o posicionamento estratégico desejado. Quanto maior o interesse estratégico, menor poderá ser o preço, pois a empresa pode renunciar a margem de lucro em troca de benefícios futuros, como aumento de reputação ou conquista de novos mercados.
- Risco oferecido pela execução do serviço: Avaliar o risco que o contrato pode trazer para o resultado desejado do projeto. Quanto maior o risco associado à execução, maior deverá ser o preço, de modo a compensar eventuais incertezas e garantir a sustentabilidade financeira do projeto.
Essa combinação de fatores permite uma abordagem mais holística e estratégica na precificação de serviços, ajustando o valor de acordo com o contexto de mercado e os objetivos da empresa.
Aspectos mercadológicos
Os aspectos mercadológicos são fundamentais nas metodologias de precificação, pois influenciam diretamente a construção das estratégias de cada organização. Ao considerar esses aspectos do ponto de vista estratégico, a empresa alinha suas decisões de preço com suas metas de mercado e posicionamento competitivo. Aqui estão os principais aspectos mercadológicos estratégicos:
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Posicionamento de mercado: O preço é um reflexo direto de como a empresa deseja ser percebida pelos clientes. Uma organização que se posiciona como fornecedora de produtos ou serviços de alta qualidade ou luxo tende a adotar uma estratégia de precificação premium, enfatizando valor agregado. Por outro lado, empresas que competem em mercados sensíveis a preço podem optar por uma estratégia de preços mais acessíveis para conquistar volume de vendas.
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Segmentação de mercado: Diferentes segmentos de clientes possuem distintas percepções de valor e níveis de sensibilidade ao preço. Ao entender o comportamento e as necessidades de cada segmento, a empresa pode adotar uma estratégia de precificação diferenciada. Isso pode incluir a personalização de preços para determinados grupos ou o oferecimento de pacotes com diferentes níveis de serviço ou qualidade.
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Elasticidade da demanda: A elasticidade de preço mede o quanto a demanda por um produto ou serviço muda em resposta a uma variação de preço. Produtos ou serviços com alta elasticidade de preço requerem maior cautela ao elevar preços, pois uma variação pode resultar em uma perda significativa de clientes. Já produtos com baixa elasticidade permitem maior flexibilidade para ajustes de preços sem grandes impactos na demanda.
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Análise de concorrência: Conhecer a estratégia de precificação dos concorrentes é essencial para se manter competitivo no mercado. Dependendo da estrutura competitiva do setor, a organização pode optar por seguir o preço de mercado, adotar uma precificação mais baixa para capturar participação de mercado ou estabelecer um preço superior, justificando o valor com diferenciais de qualidade ou inovação.
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Ciclo de vida: O estágio em que um produto ou serviço se encontra em seu ciclo de vida (introdução, crescimento, maturidade ou declínio) influencia diretamente na metodologia de precificação. Produtos em introdução tendem a ter preços mais altos para cobrir os custos de desenvolvimento, enquanto aqueles em declínio podem ter preços reduzidos para maximizar vendas antes de serem descontinuados.
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Percepção de valor: A precificação com base no valor percebido pelo cliente leva em consideração o quanto o consumidor está disposto a pagar, em vez de focar apenas nos custos. Um serviço que oferece benefícios únicos ou soluciona um problema específico pode ter um preço mais elevado, refletindo o valor que os clientes enxergam na solução proposta.
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Objetivos de longo prazo: As metas de longo prazo da organização, como crescimento de participação no mercado, fortalecimento da marca ou entrada em novos segmentos, influenciam diretamente a estratégia de preços. Muitas empresas adotam uma abordagem de "precificação de penetração" inicialmente para ganhar mercado, enquanto outras optam por uma estratégia de precificação escalonada (skimming), onde o preço começa alto e vai sendo ajustado conforme o mercado amadurece.
Esses aspectos mercadológicos, quando integrados às metodologias de precificação, oferecem uma abordagem mais estratégica e eficaz, permitindo que a empresa alcance não apenas objetivos financeiros imediatos, mas também consolide sua posição no mercado a longo prazo.
Para uma avaliação correta dos aspectos mercadológicos na precificação, as principais ferramentas baseadas em modelos teóricos incluem:
- 5 Forças de Porter: Avalia o nível de competitividade e poder de barganha no mercado, fundamentais para a definição de preços.
- Modelagem de negócios do Business Model Generation: Permite alinhar a proposta de valor com os segmentos de clientes, influenciando diretamente a estratégia de precificação.
- Teoria dos Oceanos Azuis: Explora novos mercados menos competitivos, onde a precificação pode ser mais agressiva ou inovadora.
- Balanced Scorecard (BSC) de Kaplan e Norton: Alinha a precificação com os objetivos estratégicos e indicadores de desempenho financeiro e de mercado, garantindo uma abordagem integrada.
Essas ferramentas, quando aplicadas em conjunto, fortalecem a análise estratégica e favorecem a adoção de modelos de precificação mais acurados.
Agora que você entende como a precificação pode impactar diretamente a percepção de valor e a competitividade de sua empresa, é hora de aplicar essas estratégias ao seu negócio. Analise seus custos, mercado e clientes e comece a ajustar seus preços de forma estratégica para maximizar resultados.
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