Antropocentrismo e a Centralidade da Vida Humana

04 de Junho de 2025, por Jeferson Sena | Outros
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A centralidade do ser humano, ou antropocentrismo, muitas vezes é criticada como uma visão egoísta da nossa espécie. No entanto, insisto em reconhecer que a humanidade não é apenas mais uma das muitas formas de vida no planeta, mas a única capaz de moldar e dar sentido à sua própria existência e à das outras espécies. Sem a intervenção humana, embora existisse vida biológica na Terra, esta careceria de um significado mais profundo. Não estou defendendo uma posição de superioridade da espécie humana, em termos de valor, sobre as demais, mas ressaltando sua capacidade única: a de interpretar, transformar e regular o mundo à luz da sua consciência.

O homocentrismo, como uma extensão do antropocentrismo, argumenta que os seres humanos, por meio de sua consciência, são os únicos que podem atribuir significado à vida. Aqui, a reflexão de Jean-Paul Sartre sobre a responsabilidade do ser humano em dar sentido à própria existência é essencial. Em O Ser e o Nada, Sartre argumenta que o ser humano é "condenado a ser livre", o que significa que cabe a nós criar sentido no mundo por meio de nossas escolhas e ações. Somente os humanos possuem essa capacidade de interpretar a realidade e, a partir disso, gerar significado, algo que nenhuma outra forma de vida — nem mesmo a tecnologia mais avançada — pode alcançar.

Além disso, Martin Heidegger, em Ser e Tempo, reforça essa singularidade ao afirmar que o ser humano (Dasein) é o único ente capaz de refletir sobre sua própria existência e sobre o mundo ao seu redor. Sua ideia de ser-no-mundo indica que o ser humano não apenas observa e interpreta a realidade, mas também a transforma conforme sua compreensão e intenção, em uma relação dinâmica com o ambiente.

Durante uma conversa em um grupo de discussão, um colega fez uma interessante citação ao livro God, Human, Animal, Machine, de Meghan O'Gieblyn. Ele comentou:

"Pra quem se interessa sobre as questões mais filosóficas, eu não poderia deixar de recomendar o livro God, Human, Animal, Machine, da Meghan O'Gieblyn. Escrevi no LinkedIn outro dia sobre a tese da autora: 

O problema não é tanto antropomorfizar — dar características humanas — à inteligência artificial. A questão é que nos últimos tempos nós estamos desantropomorfizando demais os humanos. 

Fiquemos nas analogias que usamos para descrever o comportamento das pessoas. Se antes falávamos de consciência ou alma, hoje nos esforçamos para explicar as nossas ações como resultado da interação da nossa CPU (cérebro) e HD (memórias), onde às vezes “processamos” sentimentos. Campos emergentes como a neuropsicologia parecem ter explicações para todos os nossos comportamentos e instintos — o vício é um desequilíbrio dos níveis de dopamina; aquela reação violenta foi o seu sistema límbico falando.

Se passamos as últimas décadas tentando explicar as pessoas como uma série de impulsos elétricos, o que é exatamente “inteligência”, “criatividade”, “empatia”, se podemos encontrar faíscas disso em um modelo de linguagem com bilhões de “parâmetros” como o ChatGPT? Será que ao estudá-lo vamos entender como nós “funcionamos”? Ou, pelo contrário, a sociedade que foi ficando cada vez menos espiritual e cartesiana irá retomar a busca pelo misterioso, o transcendental, o mágico...? Convencemos-nos que somos diferentes dos animais por sermos capaz de raciocínio lógico — o que fazer quando encontramos isso em nossa criação?

Essas são as questões que o livro aborda. Não tem como ler e não ficar pensando sobre."


Essa observação reflete bem a preocupação central de O'Gieblyn. Em seu livro, ela explora como o avanço da IA e da tecnologia está transformando radicalmente a maneira como nos enxergamos. Tradicionalmente, os seres humanos viam a si mesmos como portadores de uma essência espiritual ou metafísica, que nos distinguia do restante do mundo natural. Porém, com a ascensão das grandes inovações tecnológicas, hoje acentuada pela IA, passamos a adotar uma visão mais mecanicista de nós mesmos, reduzindo a humanidade a algoritmos e processos computacionais.

O'Gieblyn enfatiza que, ao tentar atribuindo qualidades humanas a IA, estamos, paradoxalmente, desumanizando a própria humanidade. Ao nos categorizarmos rigidamente, aplicando-nos conceitos mecanicistas, simplificamos a complexidade da experiência humana e eliminamos o caos criativo que nos define. Esta reflexão levanta uma questão essencial: até que ponto a fusão entre homem e máquina afeta nossa busca por significado e transcendência? Como essa desumanização, promovida pelo avanço de tecnologias como a das IAs, pode transformar profundamente a maneira como compreendemos a vida e a nós mesmos?

Insisto que essa linha de pensamento é crucial para o debate. Se reduzirmos a humanidade a meros processos computacionais, corremos o risco de perder o que nos torna únicos: nossa capacidade de criar, interpretar e atribuir significado ao mundo. Embora a tecnologia tenha o potencial de facilitar e aprimorar nossas vidas, ela também pode ameaçar a própria essência humana se não for acompanhada de uma reflexão ética profunda. O perigo está em delegar à IA as funções mais elevadas da mente e do espírito humano, aquelas que moldam nossa cultura, nossa percepção de nós mesmos e os rumos do planeta. Se não cuidarmos desse equilíbrio, podemos acabar desumanizando o que nos é mais precioso — nossa capacidade de viver conscientemente, interpretar o mundo e criar sentido a partir dele.

E você, já havia refletido sobre a sua singularidade?


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