Inicialmente é preciso lembrar que vivemos em um mundo totalmente conectado e que o centro dessa conectividade é a rede mundial de computadores e sua malha de comunicação (a World Wide Web). Falar do atual ambiente mundial de negócios sem pensar no seu principal suporte transacional é menosprezar o impacto que isso pode causar ao mercado, totalmente dependente de operações via internet.
O mercado de software tende a adoção de modelos de distribuição como serviço (SaaS) ou soluções Full Web, e mesmo as soluções tradicionais estão cada vez mais dependentes de transações on-line, como por exemplo as movimentações bancárias, as obrigações de controle fiscal, as transações comerciais.
Isso implica em um elevado grau de dependência dos negócios por transações via internet, o que está diretamente ligado à necessidade de consumo de serviços de banda larga pelo mercado em geral.
A limitação de acesso à banda larga fixa afeta duplamente a indústria de software e o segmento de tecnologia da informação: primeiro, as restrições de uso da banda ou o aumento dos custos de manutenção do serviço pode desestimular o mercado consumidor de soluções de TI. Em segundo lugar a indústria que tem se esforçado para evoluir as soluções oferecidas ao mercado, verá todo seu esforço de melhoria de produtos e inovação tecnológica frustrados, frente às limitações do meio utilizado para a entrega dos serviços.
É necessário imaginar como os demais setores da economia serão afetados. Veja alguns casos que já podemos prever, sem muito esforço:
- Os bancos terão de retomar a construção de agências para atenderem os clientes;
- O comércio eletrônico terá seus custos altamente impactados ou terão de operar em horário reduzido em função das limitações de trafego em suas lojas;
- Cursos de EAD perderão milhares de alunos;
- Setor de segurança pública e privada serão afetados;
- Serviços de datacenters aumentarão seus custos e muitos pequenos competidores do segmento devem fechar as portas;
Também considero relevante observarmos que serviços como os de telecomunicações, transporte coletivo, concessões de estradas, portos e aeroportos, serviços de saúde, fornecimento de energia, água, tratamento de esgoto, segurança privada, produção de fármacos, produtos químicos, entre tantos, tem seu funcionamento e/ou produção regulados e fiscalizados porque tem um valor social e econômico inestimável e não podem ser simplesmente deixados ao sabor dos ventos do mercado.
Em uma economia globalizada é, cada dia, mais fácil para as grandes corporações transnacionais dominarem os mercados e imporem-se sobre o público consumidor. Mesmo em economias maduras os Estados têm papel importante para impedir que essas organizações ultrapassem os limites do bom senso e preservação dos direitos dos cidadãos.
Sabemos que os serviços de banda larga no Brasil são dos mais caros do mundo. Sabemos que pagamos por aquilo que não consumimos. Sabemos que a infraestrutura é inadequada aos serviços. Portanto, os usuários de banda larga no Brasil já são bastante vilipendiados, na medida que contratam um serviço que nunca lhes é entregue como deveria. Permitir que haja qualquer tipo de limitação no consumo dos serviços é garantir que a extorsão será aumentada. É a imposição de racionamento ao uso da internet.
Já imaginaram viver em um país onde água, energia elétrica, transporte coletivo, serviços de saúde fossem permanentemente racionados? Pois é! Essa é a proposta para a banda larga fixa no Brasil.
É preciso pensar na famosa, antiga e válida, economia de escala. Em qualquer mercado equilibrado, quanto mais consumidores, menor deve ser o preço unitário pago pelo serviço. Isso é da natureza do livre comércio e natural em mercados competitivos. Essa premissa só não se aplica em mercados monopolizados ou oligopolizados, quando pequenos grupos econômicos tende a limitar a oferta para forçar majoração de preços.
Esse é o quadro que envolve a discussão sobre limitação do uso de banda não tão larga fixa no Brasil. A primeira pergunta que me fizeram foi: Quais os argumentos contra a limitação da internet? Na verdade, eu acredito que a questão é: porque as empresas querem limitar? Na minha opinião as respostas são:
- Para que as empresas não precisem investir na melhoria da sua, já precária, infraestrutura;
- Para que combatam seus concorrentes em outras linhas de negócios, principalmente de entretenimento e datacenters;
- Para obrigar a venda de serviços mais caros.
Reafirmo que, sob o aspecto do consumo, a grande limitação está na falta de vontade em investir na infraestrutura. É fato que o mercado está crescendo e que a oferta piora continuamente, principalmente por conta da ampliação das ofertas de serviços web e a precariedade da rede.
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Sobre o autor:
Jeferson Sena é sócio-diretor da Ninho Desenvolvimento Empresarial, especialista em projetos de organização e reestruturação de empresas, desenvolvimento, implementação e gestão de planejamento estratégico.
Fonte: Originalmente publicado no site da Comunidade Tecnológica de Goiás - COMTEC
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